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Capítulo 9

 

Planejamento Estratégico de SIGs


Um projeto com rumo

Perdidos na floresta

Era uma vez dois rapazes que sofreram um acidente aéreo, caindo em uma floresta. Eles tinham alguns suprimentos, uma bússola, e um mapa da região. Eles sabiam mais ou menos onde estavam. Analisando a situação, eles decidiram ir até Moita Seca, uma cidadezinha próxima. Eles optaram por caminhar em direção ao rio, e depois seguí-lo até a cidade. Caminhar diretamente para Moita Seca seria mais perto, porém eles consideraram mais seguro seguir o rio. Aliás eles escolheram ir para Moita Seca e não para Sapo Preto, uma outra cidade, exatamente pela possibilidade de seguir pelo rio.
 

 

9.1- Que É Planejamento Estratégico?

Esta estória ilustra alguns dos conceitos fundamentais do planejamento estratégico de SIGs. Os rapazes tomaram duas decisões:

O planejamento estratégico de SIGs busca resposta a essas mesmas perguntas. Na implantação de SIGs a pergunta "aonde queremos chegar?" significa "a que tipo de SIG queremos chegar?"; "como chegar lá?" eqüivale a "qual a melhor estratégia de implantação?".
 
 

“Um plano estratégico descreve onde um sistema ou programa está, onde se deseja que ele esteja, e como ele vai chegar lá.” 

Davis & Rhyason 1994 p. 553

 

A Figura 9.1 mostra como o planejamento estratégico de SIGs é desenvolvido. Um primeiro bloco é a Visão Estratégica do SIG (o termo "visão" é utilizado por Anderson 1992, Davis & Rhyason 1994, Huxhold & Levinsohn 1995, e outros). Na analogia já costumeira, a visão é o destino ao qual se quer chegar. A Estratégia de Implantação, um segundo bloco, é o caminho -- como chegar lá. A visão e a estratégia de implantação são definidas a partir da análise do contexto do projeto, e de soluções alternativas quanto a diversos aspectos do SIG.
 
 

 

Figura 9.1- Processo de planejamento estratégico de SIGs

 

 

Diferença entre planejamento estratégico e projeto técnico

O projeto técnico define detalhadamente como será o sistema: os dados necessários, sua organização, a especificação precisa das aplicações, da interface com o usuário, etc. O planejamento estratégico não define tais detalhes; define metas estratégicas para direcionar todo o processo de desenvolvimento. O projeto técnico vem depois.

9.2- Análise do Contexto do Projeto

Para uma definição consciente da visão e da estratégia de implantação, devem ser identificadas as principais restrições, os riscos, e as oportunidades que podem influenciar o projeto. Riscos não considerados podem inviabilizar o projeto; oportunidades podem ser desperdiçadas.

Os exemplos apresentados a seguir indicam o tipo de questões que devem ser respondidas durante a análise do contexto.

Riscos

Recursos

Oportunidades

Restrições

9.3- Visão Estratégica do Sistema

Visão estratégica é uma imagem do SIG que se quer implantar. Para o desenvolvimento da visão, o contexto do projeto é confrontado com soluções alternativas. A visão estratégica é formada pela combinação das alternativas mais adequadas às circunstâncias do projeto.

Que aspectos do projeto devem ser definidos? Os capítulos 1 a 6 apresentam soluções alternativas quanto a usos e benefícios, participantes, administração do projeto, custeio, etc. Esses são alguns dos aspectos para os quais podem ser estabelecidas metas.

Metas quanto a usos e benefícios

Por que implantar o SIG? O que a organização ganhará com isso? Essas questões fundamentais podem ser respondidas com base nas respostas a outras duas perguntas:

Prioridades

Diretrizes tecnológicas

Embora o objetivo do planejamento estratégico não seja definir detalhes técnicos, podem ser definidas algumas diretrizes em razão de restrições e normas já vigentes na organização, tais como:

Metas quanto ao escopo e integração do sistema na organização

Estratégia de administração e controle do sistema

Estratégia para custeio do SIG

Metas quanto a parcerias com outras instituições

Metas quanto a comercialização de dados e acesso ao sistema por terceiros

9.4- Estratégia de Implantação

A visão define metas a serem atingidas. Se as metas forem audaciosas, pode ser inviável atingi-las em um único salto, da situação atual para a situação desejada. A estratégia de implantação define um caminho viável em direção às metas estabelecidas, tendo em vista o contexto do projeto.

Uma estratégia de implantação pode ser descrita através de dois componentes principais: fases da implantação, e diretrizes para o tratamento de riscos.

Fases da implantação

Se a implantação de uma vez só é inviável, devem ser previstas configurações intermediárias do sistema, ou fases, com objetivos bem definidos. Exemplo:

 

metas estratégicas

Fase I  

(1 ano)

  • introduzir a tecnologia na organização
  • familiarizar os potenciais usuários com a tecnologia, formar uma equipe técnica capaz de gerenciar projetos maiores
  • aprofundar contatos com potenciais parceiros para as próximas fases do projeto
  • implementar duas aplicações pequenas, independentes entre si, rápidas, de baixo custo, nos dois setores mais receptivos ao projeto (especificar as aplicações, os benefícios esperados de cada uma delas, os dados necessários, e a estimativa de custos)
  • o setor X será responsável pela administração do sistema
  • 50% dos recursos necessários para essa fase do projeto sairão do orçamento dos setores X e Y, que são os principais beneficiários. Os demais 50% serão custeados com recursos de outras alíneas
  • avaliar os resultados obtidos e reavaliar o planejamento estratégico

Fase II 

(2 anos)

  • estabelecer uma base cartográfica comum para todos os setores da organização
  • compartilhar os custos do desenvolvimento e atualização dessa base cartográfica com outras instituições
  • difundir a cultura de geoprocesamento por toda a organização
  • implantar pelo menos uma aplicação em cada um dos setores considerados estratégicos (especificar os setores), desde que estejam receptivos. Apesar de contar com uma base cartográfica comum, as aplicações nos diversos setores serão independentes entre si
  • nesta fase devem ser priorizadas as aplicações que proporcionem melhoria dos serviços à população/aos clientes (especificar usos, benefícios, prioridades, etc.)
  • a administração do sistema continuará a cargo do setor X. As decisões sobre o projeto ficarão a cargo de um comitê dos participantes
  • os custos diretos do projeto (equipamentos, serviços, etc.) serão totalmente custeados pelos setores beneficiários. Os custos indiretos, inclusive os custos de pessoal, serão considerados como custos administrativos

Fase III 

(2 anos)

  • desenvolver um SIG de caráter corporativo, integrando todos os setores e eliminando redundâncias no armazenamento e manipulação de informações
  • para essa fase devem ser identificadas fontes externas para custeio (ainda que parcial) do sistema (a venda de produtos e serviços, por exemplo, deve ser considerada)
  • a administração do sistema será centralizada, o controle estará a cargo de um comitê, e os custos diretos e indiretos serão divididos entre os setores participantes de forma proporcional à utilização dos recursos do sistema

Tabela 9.1- Exemplo de metas estratégicas para um projeto, em três fases

 

Diretrizes para tratamento de riscos

Na análise do contexto foram identificados os principais riscos ao projeto. Considerando esses riscos, que precauções devem ser tomadas para garantir a viabilização do projeto? Exemplos de diretrizes para tratamento de riscos são:

Como saber se o planejamento estratégico está bom?

As diretrizes estratégicas e os principais riscos à viabilização do projeto podem ser utilizados como uma lista a ser verificada ponto a ponto. Esse checklist pode identificar pontos do projeto que precisam ser revistos. Exemplos de alguns pontos a serem verificados:

Resumindo...

Planejamento estratégico estabelece um rumo para o projeto antes da definição dos detalhes técnicos -- veja o diagrama ao lado. O projeto técnico já tem suas próprias complicações, que se tornam ainda maiores se as questões estratégicas não tiverem sido previamente definidas. Além disso, sem um rumo previamente estabelecido, o projeto pode caminhar alguns passos na direção errada, o que complica tudo.

O planejamento estratégico pode ser revisto a qualquer momento, e deve ser revisto periodicamente. É importante que todas as metas sejam documentadas. Em um momento posterior, o documento será a base para as discussões que porventura surgirem. Por exemplo, o documento poderá ser utilizado para verificar se uma nova idéia, ou um novo projeto, estão de acordo com os princípios já estabelecidos. Isso poupará muita discussão, especialmente se o projeto envolver vários participantes. Chegar a um consenso não é fácil; não há porque chegar a um mesmo consenso duas vezes.

Uma viajem sem rumo

Voltando à nossa ilustração inicial, os dois rapazes que caíram na floresta poderiam não ter planejado seu próprio resgate, como fizeram. Eles poderiam simplesmente começar a caminhar em busca de um povoado; sem um rumo definido. Qual seria a situação análoga na implantação de SIGs?

Leia Mais

Anderson, C. S. (1992); "GIS Development Process: A Proactive Approach to the Introduction of GIS Technology". Proceedings of the GIS/LIS Conference p. 1-10. San Jose, USA, 10-12 de novembro de 1992.

Davis, J.; Rhyason, D. B. (1994); "A Strategic Planning Process for a Mature, Multiparticipant AM/FM/GIS". Proceedings of the XVII AM/FM Annual Conference p. 551-561. Denver, USA, 14-17 de março de 1994.

Huxhold, W. E. & Levinsohn, A. G. (1995); "Managing Geographic Information Systems Projects". Oxford University Press, New York, 1995.

 

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Ferrari Júnior, Roberto
    Viagem ao SIG: planejamento estratégico, viabilização, implantação e gerenciamento de sistemas de informação geográfica / Roberto Ferrari Júnior. -- Curitiba : Sagres, 1997.
    178 p.
    Inclui referências bibliográficas.
    ISBN 85-86287-02-4
    1. Sistemas de informação geográfica. 2. Planejamento estratégico. 3. SIG. 4. Gerenciamento. 5. Implantação.     I. Davis Júnior, Clodoveu A. II. Yuaça, Flávio. III. Figueiredo, Hamilton. IV. Sikorski, Sergiusz R. V. Título.

CDD- 910.0285