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Capítulo 2

 

Participantes de um SIG


Se posso comer tudo sozinho, por que dividir com alguém?

 
 

Era uma vez quatro amigos querendo jantar...

Era uma vez quatro amigos que dividiam um apartamento. A princípio tinham vidas completamente independentes: cada um fazia a sua própria janta e lavava sua própria louça; cada um comia exatamente o que queria, no horário que lhe fosse mais conveniente. Mas eles perdiam muito tempo fazendo comida e lavando louça.

Um dia, dois desses quatro amigos perceberam que jantavam quase sempre no mesmo horário, e fizeram um trato: apenas um deles faria a janta e lavaria a louça -- um dia um, um dia outro. Assim eles perdiam menos tempo. Por outro lado, um dos dois sempre ficava um pouco descontente, pois um gostava mais de legumes e o outro gostava mais de carne. Os outros dois amigos continuavam a fazer seus jantares de forma independente.

O tempo passou e os quatro amigos então decidiram fazer um jantar único. Dividindo o trabalho, todos trabalhariam menos. Decidir o cardápio, contudo, era uma dificuldade. Eles também reclamavam da falta de independência: não podiam simplesmente decidir que trabalhariam até mais tarde porque, em certos dias, tinham o compromisso de fazer o jantar para os demais.

Esses quatro amigos eram vizinhos de outros quatro que também tinham problemas quanto ao jantar. Todos perceberam que, sendo oito, poderiam pagar uma pessoa para cozinhar. As dificuldades para decidir o cardápio seriam ainda maiores, mas valeria a pena: eles não precisariam mais cozinhar!
 

Era uma vez quatro departamentos querendo um SIG...

Assim como os quatro amigos podem optar pela janta independente ou pela janta conjunta, diferentes departamentos de uma mesma instituição podem optar por SIGs independentes ou por um projeto conjunto. As seções que se seguem apresentam quatro cenários básicos quanto aos possíveis participantes de um SIG.
 
 

2.1- SIGs Setoriais Absolutamente Independentes

A Figura 2.1 ilustra uma situação na qual cada departamento, ou setor, opera um SIG de forma absolutamente independente dos demais. Cada SIG é alimentado com informações do próprio setor; não há compartilhamento ou troca de informações. Se dois setores A e B utilizam um mesmo conjunto de informações, essas informações são armazenadas de forma redundante, tanto em A quanto em B. Também não há compartilhamento de estruturas de apoio ao SIG: existe uma pessoa para atualizar as informações do SIG do setor A, e uma outra pessoa responsável pela atualização das informações do SIG do setor B.

Na estória dos quatro amigos, quando cada um fazia sua própria janta eles comiam exatamente o que queriam, no horário que considerassem mais conveniente. Isso ocorria porque cada um tinha o controle absoluto sobre seu próprio jantar. De forma semelhante, com SIGs independentes cada setor tem o controle absoluto do seu próprio SIG. Cada setor define as aplicações, os dados necessários, a precisão das informações, o software mais adequado, etc.

Figura 2.1- SIGs setoriais independentes ( cada um faz sua própria janta )

 
 

2.2- Integração de SIGs setoriais

No cenário da Figura 2.2, os SIGs dos setores B e D são interligados por setas, o que sugere uma integração entre eles. Os setores A e C continuam independentes. Para exemplificar, suponha que o setor B seja o responsável pelo gerenciamento do trânsito, em uma prefeitura, e o setor D o responsável pela coleta de lixo. Como ambos os setores necessitam de uma planta básica com as ruas da cidade, eles decidiram manter uma única planta de ruas. As informações que não são de uso comum continuam sendo mantidas setorialmente.

 

Figura 2.2- SIGs setoriais com certo nível de integração ( dois deles fizeram um trato... os outros dois continuam jantando sozinhos )

A principal motivação para o acordo entre os setores B e D foi a divisão de custos. O setor B faz a manutenção da planta básica e recebe do setor D cerca de 30% dos custos de manutenção. O setor D, por sua vez, não tem que se preocupar com a manutenção da planta. Essa é uma situação semelhante àquela em que dois amigos combinaram fazer um único jantar: um dia apenas um deles faz a janta; no dia seguinte o outro deles é que prepara o jantar. Assim eles dividem o trabalho.
 
 

2.3- SIGs Corporativos

Um SIG corporativo é aquele que tem por propósito servir toda a organização. Em um SIG corporativo, a visão de que cada setor necessita e mantém suas próprias informações é substituída pela visão de que a organização como um todo é que armazena e mantém informações. Todos os setores se utilizam de um banco de dados comum -- um banco de dados corporativo (Figura 2.3).

 

Figura 2.3- SIG Corporativo ( um jantar para todos )

 

Sistemas setoriais integrados, como descrito na Seção 2.2, não formam um SIG corporativo. O ponto chave de um sistema corporativo não é abranger vários (ou todos os) setores, mas sim a premissa de que a organização como um todo é dona e beneficiária do sistema. Não são vários sistemas integrados, é um sistema único.

Quando os quatro amigos decidiram fazer um jantar conjunto, eles eliminaram os esforços redundantes: apenas um deles preparava o jantar. Esse é um dos grandes benefícios de um sistema corporativo: a eliminação de esforços redundantes. A administração pública, por exemplo, se preocupa com aspectos bastante diversos como educação, transportes, industrialização, e habitação. Quem está preocupado com o aspecto transportes precisa saber onde o cidadão mora, onde trabalha, e onde estuda. Quem se preocupa com o aspecto educação também precisa saber onde o cidadão mora e estuda. Outros setores da administração pública também podem se interessar por essas mesmas informações. Se cada setor que se interessa em saber onde mora o cidadão armazenar e atualizar essas informações em um sistema próprio, seus esforços estarão sendo redundantes. Em um sistema corporativo, todos os setores podem utilizar as informações que lhes são pertinentes, mas haverá uma única estrutura responsável por armazenar e atualizar tais informações.

 

 

SIGs na Grã-Bretanha

Em 50% das instituições de administração municipal que usam SIGs, vários departamentos são parceiros no projeto. Nos outros 50%, um único departamento está envolvido. 

 

Masser & Campbell (1994)

 

 

2.4- SIGs Envolvendo Diversas Instituições

Diferentes instituições podem se tornar parceiras e compartilhar informações de interesse comum, como esquematizado na Figura 2.4. Assim como diferentes setores de uma instituição podem se interessar por um mesmo conjunto de informações, diferentes instituições também podem ter necessidades comuns. Por exemplo, tanto a prefeitura quanto as companhias concessionárias de serviços públicos podem necessitar de informações sobre topografia, logradouros, e localização das redes de serviços.

Figura 2.4- SIG Multi-institucional ( compartilhando os custos do jantar com os vizinhos )

Além de compartilhar informações de interesse comum, duas ou mais instituições podem utilizar um único corpo de técnicos para desenvolvimento de aplicações, suporte aos usuários, e manutenção da base de dados. Compartilhando informações e estruturas, também são compartilhados os custos. Compartilhamento de custos foi a motivação daqueles quatro amigos ao contratar uma única pessoa para cozinhar para eles e para seus vizinhos.
 

Se posso comer tudo sozinho, por que dividir com alguém?

A Tabela 2.1 compara os benefícios e as dificuldades de projetos setoriais independentes, e de projetos envolvendo vários participantes.

 

SIGs setoriais independentes

projetos com vários participantes

benefícios

  • independência, controle total sobre o SIG
  • maior facilidade para coordenação do projeto
  • o SIG pode atender necessidades individuais, de um único departamento

·  compatibilização de informações

·  intercâmbio de informações

·  acesso mais fácil a informações de outros setores/toda a organização

·  eliminação de redundâncias e custos

·  divisão de custos com outras instituições

dificuldades

  • ausência das vantagens do compartilhamento de informações e estruturas

·  maior dificuldade para coordenação do projeto (demanda mais tempo devido a diferenças nas necessidades, prioridades e recursos)

·  dificuldades de acordo devido a diferenças nas necessidades e ao medo de perder o controle sobre informações

Tabela 2.1- Benefícios e dificuldades de projetos com vários participantes

A vantagem de um sistema setorial independente é o controle total sobre o projeto. Assim o SIG pode atender plenamente às necessidades específicas do setor, que podem não interessar ao restante da organização. Projetos com vários participantes possibilitam a compatibilização e o intercâmbio de informações, a eliminação de redundâncias, e a divisão de custos. Contudo, a coordenação de projetos com vários participantes é mais trabalhosa devido a diferenças de necessidades, prioridades, e devido ao medo de perder o controle da situação. Além disso alguns departamentos ou instituições podem não estar receptivos a participar em um projeto conjunto. O compartilhamento de dados e estruturas é desejável, mas pode não ser viável em um determinado momento.
 

Leia mais...

Budic, Z. N- (1995); "Mechanisms for Coordinating Development and Use of GIS Databases: A Research Framework". Proceedings of the Annual URISA Conference p. 662-674. San Antonio, USA, 16-20 de julho de 1995.

Campbell, H. J. (1993); "GIS Implementation in British Local Government". In: "Diffusion of Geographic Information Technologies" p. 117-146. Ian Masser e Harlan J. Onsrud (eds.). Kluwer Academic Publishers, Dordrecht, The Netherlands, 1993.

Masser, I. & Campbell, H. J. (1994); "Information Sharing and The Implementation of GIS: Some Key Issues". In: "Innovations in GIS: Selected Papers from the First National Conference on GIS Research UK" p. 217-227. Michael Worboys (ed.). Taylor & Francis, London, UK, 1994.

PTI & ICMA (1991); "The Local Government Guide to Geographic Information Systems: Planning and Implementation" p. 28-30. PTI (Public Technology Inc.) and ICMA (International City Management Association), Washington DC, USA, 1991.

 

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  Ferrari Júnior, Roberto
    Viagem ao SIG: planejamento estratégico, viabilização, implantação e gerenciamento de sistemas de informação geográfica / Roberto Ferrari Júnior. -- Curitiba : Sagres, 1997.
    178 p.
    Inclui referências bibliográficas.
    ISBN 85-86287-02-4
    1. Sistemas de informação geográfica. 2. Planejamento estratégico. 3. SIG. 4. Gerenciamento. 5. Implantação.     I. Davis Júnior, Clodoveu A. II. Yuaça, Flávio. III. Figueiredo, Hamilton. IV. Sikorski, Sergiusz R. V. Título.

CDD- 910.0285